"Festival Todos: seis formas de correr o mundo sem sair de Lisboa De quinta a domingo, a Lisboa bairrista e castiça do fado, do Oriente, das Áfricas e da América Latina saem para a rua. Catarina Mendonça Ferreira conta-lhe tudo sobre a segunda edição da maior festa multicultural que a cidade já viu. “Todos” é uma caminhada através das artes e das culturas que visa o cruzamento dos povos que habitam a cidade de Lisboa e que são também lisboetas. Pelo segundo ano, a Câmara Municipal de Lisboa (Gabinete Lisboa Encruzilhada de Mundos) e a associação Academia de Produtores Culturais apresentam, de 16 a 19 de Setembro de 2010, a segunda edição do festival “Todos – Caminhada de Culturas”.
Passeios a pé, concertos e circo nas praças, espectáculos de teatro, dança e música dentro de casas do bairro, oportunidades para cantar, para cozinhar, para ver cinema feito no bairro, livros escritos por moradores e fotografia que mostra os mistérios e a beleza deste bairro.
Além de trazer a cultura e as artes a todos, Madalena Victorino, programadora do festival, revela que outro grande objectivo do festival é desmantelar o estigma negativo que o bairro tem e fazer com que as pessoas sintam o desejo de vir a este bairro, de vir às compras, ao cabeleireiro, aos restaurantes. Paralelamente ao programa, existe um folheto com as moradas destes locais no bairro, para que os participantes possam percorrê-lo.
1Circo O Circo Romanès – Paradis Tzigane é uma das grandes novidades deste ano. Uma família romena, vinda de França, apresenta-se numa magnífica tenda de circo, instalada na Praça do Intendente. Mas este é um circo muito diferente daquele que estamos acostumados a ver. O seu lema é “nada na manga, tudo no coração”. É uma grande família onde todos têm uma função: irmãs acrobatas, tio actor, mãe cantora, primos malabaristas e, o pai, poeta e chefe deste circo cigano. Quinta a domingo, às 21.30, no Largo do Intendente. Entrada livre com lotação limitada.
2Teatro Um beijo…mais um beijo…outro beijo é inspirada livremente na obra Otelo, de Shakespeare. A história desta peça de teatro é contada por três personagens viajantes com uma deficiência: um é surdo, o outro é mudo e o outro é cego. Personagens perfeitas para representar o ciúme cego de Otelo, a inveja surda de Iago e a inocência muda de Desdémona. Este é um “Otelo muito popular, com um texto muito curto e físico, para trazer Shakespeare para perto das pessoas, que será representado no Grupo Desportivo da Mouraria durante os quatro dias do festival. O público é convidado a entrar no ringue de futebol de salão e a sentar-se na bancada ao ar livre. Homens para um lado, mulheres para o outro. Quinta a domingo, às 21.30, no Grupo Desportivo da Mouraria (Tv. da Nazaré, 21). Entrada livre com lotação limitada.
3Música Mais uma vez esta é a parte mais extensa do programa de “Todos”. O fado estreia-se com Aldina Duarte, mas também num outro concerto muito curioso. Gong Linna é uma cantora de Xangai que preparou um projecto musical com António Chaínho e Isabel Noronha. “Há linhas melódicas no canto chinês que são semelhantes ao fado, e é com base nessas semelhanças que se desenha este concerto com guitarra portuguesa, canto chinês e fado”, explica Madalena Victorino. “Cores da Saudade” é o resultado final deste projecto, que se apresenta no domingo, pelas 17.30, no Martim Moniz. Outro destaque musical vai para a Kocani Orkestar da Macedónia, uma mistura de canto cigano, árabe e sonoridades do Oriente, que se apresenta em dois formatos: fanfarra, que vai percorrer as ruas da Mouraria no sábado e no domingo, e dar um concerto, sábado no Martim Moniz. No âmbito da iniciativa “Seja Feliz no Martim Moniz”, o festival apresenta mais música noutros formatos. Há concertos de música da Guiné e Cabo Verde, um DJ indiano e a dança do leão, uma dança popular da China. Todos os visitantes e moradores do bairro estão convidadas a cantar na iniciativa “As Vozes do Bairro”. Em jeito de mini-workshops, vários artistas lançam o mote para o canto. No sábado, Rui Júnior ensina a sentir a pulsação no corpo e, depois, as pessoas saem para a rua em busca da pulsação e dos ritmos do bairro: “O Alfaiate indiano e a sua velha máquina de costura, as mesquitas, a loja de sapateiro, o eléctrico…”. O Espaço ConTacto convida todos a virem fazer o seu rap. Em “Canções para embalar o mundo”, pais de várias culturas diferentes mostram como cantam para embalar os seus bebés. Já em “Canto Crioulo”, a música é outra. Danae e Raimund, dois músicos cabo-verdianos da nova geração, fazem a ponte entre a música indiana e cabo- -verdiana. Isabel Campelo ensina no mesmo dia as pessoas a cantar o fado e música brasileira no programa “Travessias”.
4Gastronomia Um êxito no ano passado que está de volta são os encontros de culinária com cinco famílias. Uma família do Norte do Punjab dá a conhecer a gastronomia indiana, uma família chinesa ensina a fazer comida cantonesa, uma família brasileira mostra como se fazem algumas especialidades do seu país, como o pão de queijo, o quindim e a feijoada à brasileira. Para revelar o melhor da gastronomia africana, duas famílias, uma de São Tomé e Príncipe e outra de Cabo Verde, juntam-se na mesma cozinha. Por último, junta-se ainda uma família ucraniana. São duas manhãs que serão preenchidas com cinco workshops que acontecem no Mercado do Forno do Tijolo, em lojas desactivadas. Sábado e domingo, das 10.00 às 14.00. Sujeito a inscrição prévia: festival.todos@gmail.com / 91 509 5513. Preço: 6€
5Dança A dança marca presença no festival com um espectáculo de dança da coreógrafa catalã Ainhoa Vidal, que conta com a participação de moradores do bairro e intérpretes profissionais. Chama-se “A Vós” (para vós e sobre avós) e tem a ideia de ligar gerações. É uma aprendizagem do valor das origens, do amor perante aquilo que nos criou. Os intérpretes são bailarinos muito jovens que dançam duetos com pessoas de idade do bairro. Sexta às 16.30 e às 19.00, sábado à 15.00 e às 17.30, domingo às 11.30 e às 16.30, no Martim Moniz.
6Fotografia É um projecto que se repete, mas que traz novas fotografias a cores. São cinco olhares de fotógrafos – Camilla Watson,Carlos Morganho, Cláudia Damas, Luís Pavão e Luísa Ferreira – que vivem ou trabalham no bairro do Martim Moniz e que o fotografaram. O tema comum é a identidade múltipla culturalmente rica desta Lisboa. Quinta a domingo, das 10.00 às 20.00 no Arquivo Municipal de Lisboa/ Núcleo Fotográfico (R. da Palma, 246).
O festival “Todos – Caminhada de Culturas” acontece de quinta a domingo, nos Anjos, Intendente, Mouraria e Martim Moniz. Para ter acesso ao programa consulte http://todoscaminhadadeculturas.blogspot.com ou visite o Ponto de Encontro do Festival.
terça-feira, 14 de Setembro de 2010"